segunda-feira, 21 de março de 2011

OS DEUSES DOS CELTAS CONTINENTAIS



Marie-Louise Sjoestedt
Enquanto dependemos do testemunho dos celtas insulares para os mitos, para as imagens temos alguns documentos no tocante aos celtas do continente. Esses documentos são de dois tipos: textos de escritores antigos e inscrições e monumentos gauleses e galo-romanos. Os textos latinos e gregos são breves, enfáticos e sugerem concepções análogas às que são familiares em outras mitologias, sendo, portanto, tranquilizadoras.

As inscrições (meros nomes ou epítetos de divindades) e os monumentos (na medida em que são puramente célticos, pois devemos considerar a possibilidade de influência romana) nos dão somente alusões que não são fáceis de interpretar e lançam apenas um pouco de luz sobre um mundo de noções obscuras. Fica-se tentado a usar os textos como pontos de partida com o fito de explicar os monumentos e isso para ajustar os fragmentos do quebra-cabeça na moldura pronta que algum parágrafo de Caesar fornece. Porém, essa tentação deve ser evitada, pois é mais seguro perambular sem guia num país não mapeado do que confiar totalmente em um mapa traçado por homens que vieram só como turistas e muitas vezes com julgamento tendencioso. Desse modo, avançaremos como se jamais grego ou romano houvessem visitado um território céltico e examinaremos primeiro os documentos nativos. Estaremos então prontos para comparar nossas descobertas com o que outros escritores relataram.

O primeiro fato que nos atinge é a multiplicidade de teônimos e a escassez dos exemplos da ocorrência de cada um deles. De acordo com uma estimativa antiga, que provavelmente não está sujeita e nenhuma correção de monta, de 374 nomes atestados nas inscrições, 305 ocorrem uma única vez. Os nomes mais frequentemente mencionados são os dos deuses Grannos (19 vezes) e Belenos (31 vezes) e das deusas Rosmerta (21 vezes) e Epona (26 vezes).
Os nomes dos deuses gauleses são uma legião e o número não ficou explicado por esses processos paralelos de sincretismo e expansão que noutros lugares resultou na definição e fixação das características dos deuses. No período galo-romano, quando os cultos nativos tornaram-se integrados ao sistema religioso imperial, uma única deidade romana representava uma multiplicidade de deuses locais cuja lembrança ficava preservada no epíteto do estrangeiro importado. Assim, cinquenta e nove epítetos diferentes são ligados ao nome de Marte: Marte Teutates é o Teutates que conhecemos de Lucanus; Marte Segomo é o Segomo cujo culto aparece em Munster e cujo nome ocorre no do herói irlandês Nia Segamon ("Campão de Segomo"); Marte Camulus é o disfarce do deus Camulus, sem dúvida idêntico a Cumhall, pai do herói Finn (v. cap. VIII); Marte Rudianos ("o Vermelho") lembra o nome do deus-cavalo Rudiobos, pois o cavalo e a cor vermelha estão associados à terra dos mortos e à guerra em todo o território céltico. Isso fica evidente pelos jaezes vermelhos da Morrígan e pelos três cavaleiros vermelhos do reino de Donn, senhor dos mortos, cujo surgimento em "A Destruição da Hospedaria de Da Derga" anuncia o destino iminente do rei Conaire. Desse modo, uma multiplicidade de deuses tribais que ele suplantou aparece sob a unidade do culto imperial de Marte.

A pluralidade de nomes em toda a extensão do território sugere que esses eram deuses tribais, os deuses de comunidades ou grupos de comunidades, pois sua distribuição parece ser política ou geográfica, em lugar de funcional. E essa sugestão é confirmada por uma útil observação feita por Vendryes. É fato bem conhecido que um dos deuses representados com mais frequência nos monumentos gauleses é o Tricephalus, um deus com três cabeças ou três faces. Temos dele trinta e duas efígies, a maioria delas da Gália setentrional. Quinze dos exemplos mais arcaicos foram encontrados no território dos Remi. Portanto, podemos considerar o Tricephalus como um deus dos Remi, ao menos quanto a sua origem. Novamente, o culto das Matres é difundido na Renânia e, especialmente, entre os Treveri. Encontramos, porém, um exemplo do Tricephalus representado numa estela em Trier e ele aparece sobrepujado pelas três Matres dos Treveri, que parecem calcá-lo aos pés. Esse momumento pode ser comparado a uma estela descoberta em Malmaison, na qual o Tricephalus está associado a um outro grupo, o par formado por Mercúrio e sua companheira, Rosmerta. No entanto, as posições estão nesse caso invertidas e o Tricephalus parece dominar o par divino. Assim, cada um dos dois povos simbolizou o triunfo de seu próprio deus sobre deuses estrangeiros ou hostis. Vendryes sem dúvida está correto ao considerar tal evidência como indicação do caráter nacional que os Remi atribuíam ao seu Tricephalus e os Treveri a suas Matres.

Esse caráter tribal do deus fica claramente explícito no nome do deus gaulês Teutates mencionado por Lucanus: "e aqueles que com sangue maldito pacificam o selvagem Teutates, de Esus os santuários hórridos, e os altares de Taranis, cruéis como aqueles amados pela Diana dos Citas". Supôs-se que Teutates fosse um dos grandes deuses gauleses, mas essa hipótese fica invalidada pelo fato de que ele é mencionado alhures em uma única inscrição e era, provavelmente, adorado apenas por alguma tribo obscura. Deveras, o nome significa simplesmente "(o deus) da tribo" (gaulês touto-, teuta-, irlandês túath, "tribo"), título que corresponde a uma fórmula familiar das sagas ilandesas: "Juro pelo deus (ou deuses) pelo qual meu povo jura!" Cada povo gaulês posuía, então, seu Teutates e cada um adorava-o com um nome diferente ou com um dos títulos: Albiorix, "Rei do Mundo"; Rigisamus, "Muito Majestoso"; Maponos, "o Grande Jovem"; Toutiorix, "Rei da Tribo"; Caturix, "Rei da Batalha"; Loucetius, "o Brilhante", que talvez não sejam mais do que formas de invocar o deus sem profanar seu nome, por meio de uma precaução correspondente à sugerida pela fórmula irlandesa. Como esses deuses de povos ou tribos surgem à imaginação dos gauleses? Sem discutir detalhadamente as imagens, observaremos algumas características gerais.

Em primeiro lugar, figuras triplas são importantes, deuses com três cabeças ou três faces e grupos de três deusas. O número três desempenha um grande papel na tradição céltica; a "tríade", uma fórmula que combina três fatos ou rês preceitos, é um gênero que domina a literatura gnômica de Gales e da Irlanda e personagens triplos ou trios são proeminentes nas tradições épicas dos dois povos. Outro fato notável é o distintivo caráter mais ou menos zoomórfico das efígies, algumas vezes expresso em forma mais evoluída do mesmo tipo mitológico pela associação de um animal com o deus. Um exemplo é oferecido por Cernunnos ("o Chifrudo"), o deus cujo culto é mais amplamente atestado. Ele é representado com os chifres de um carneiro ou gamo, acocorado no chão. A postura lembra a do Buda, mas isso deve ter sido habitual aos gauleses, cujo mobiliário não incluía nenhum tipo de cadeira. Ele está frequentemente acompanhado de uma ou duas serpentes com chifres e o deus chifrudo com uma serpente aparece no famoso caldeirão de Gundestrup. Certas variações mostram uma deidade feminina, ou uma figura de três cabeças, do mesmo tipo.

Esse elemento zoomórfico aparece com mais clareza nas figuras femininas que nas masculinas; uma das deusas mais familiares é Epona, cujo nome significa "a Grande Égua" e que surge motada em lombo de cavalo, acompanhada por uma égua com seu potro; a galesa Rhiannon, "a Grande Rainha", tem sido reconhecida como uma deusa-égua comparável a Epona. Encontramos também uma deusa-ursa, Artio, e não pode haver dúvida que o nome de Damona, formado como Epona, significa "a Grande Vaca" (cf. irlandês dam, "boi").

Essas deidades femininas ocupam um grande espaço no mundo religioso dos gauleses. Elas podem ser divididas em duas classes. A primeira é a das deusas tutelares, que são ligadas à própria terra e a características locais, fontes ou florestas, ou, novamente, aos animais que os frequentam, e que controlam a fertilidade da terra, como demonstrado pelo corno da abundância que é um de seus atributos. Tais são as Matres e Epona e as deusas da água (Sirona na Gália oriental e Brixia, a companheira de Luxovius, o deus aquático de Luxeuil) ou das florestas (Dea Arduina das Ardennes). A segunda classe, que é menor, é a das deusas da guerra: por exemplo, Andarta, dos Vocontii, ou Andrasta, que era invocada por Boudicca antes de entrar em batalha, ou Nemetona, cujo nome assemelha-se ao de Nemain, uma das três Morrígna da tradição irlandesa (v. p. 32). Os dois tipos, dos quais um representa os poderes de fertilidade, o outro, os poderes de destruição, aparecem separadamente no território continental. Encontramo-los fundidos nas pessoas das mesmas divindades na tradição insular, que representa, nesse aspecto como em outros, uma concepção menos analítica e mais arcaica que a gaulesa.

Muitas das deusas usualmente aparecem como companheiras de um deus. Brixia e Luxovius já foram citados e Sirona é comumente associada a Grannos ou, algumas vezes, a Apolo; Nemetona aparece nos monumentos ao lado de Marte, que, sem dúvida, substitui nesses casos algum deus guerreiro céltico; do mesmo modo, Rosmerta é a companheira de Mercúrio. Contudo, o par que se vê com mais frequência é Sucellos e Nantosuelta.

Sucellos, "o Deus do Malho", cujo nome significa "Bom Golpeador" tem sido identificado a Dispater, ancestral dos gauleses, de quem Caesar nos fala. A aparência desse deus barbudo, vestido com a túnica curta que era o traje nacional dos gauleses, expressando força e autoridade e, ao mesmo tempo, uma certa benevolência, combina bastante com a ideia de um deus-pai e lembra, em muitos aspectos, o deus principal dos irlandeses, o Dagda (v. Cap. III). Seus atributos são o malho, arma do "Bom Golpeador", e o cálice ou prato, símbolo da abundância, e há um contundente paralelo com os dois atributos do Dagda, a maça que derruba seu inimigo e o inexaurível caldeirão que assegura a abundância a seu povo. Portanto, essas divindades possuem as duas características que definem a função do deus-pai, que é, a um só tempo, guerreiro e, assim, protetor e nutridor. O nome de sua companheira, Nantosuelta, é obscuro, mas o primeiro elemento pode ser reconhecido como significando "rio" (cf. galês nant, "correnteza"). Assim, encontramos em solo gaulês uma associação de um deus-pai como uma deusa fluvial local, que é confirmada por um episódio da mitologia irlandesa em que o Dagda é associado ao Boyne, o rio sagrado da Irlanda (v. p. 41). Outros pares podem ser acrescentados a essa classe. Na região de Salzbach, um "deus do malho" está associado à deusa Aeracura, que aparece com um corno da abundância e um cesto de frutos, atributos das Matres. Na mitologia dos celtas insulares, encontraremos novamente esses pares, compostos por um deus principal e uma das Matres e não há dúvida de que representam uma das noções fundamentais da religião céltica.

Deuses tribais e deusas-mães: é possível ir além dessa caracterização geral das divindades gaulesas? É possível encontrar um traço de separação de suas funções e atividades? A tentativa tem sido feita por força do parágrafo de Caesar que é citado com frequência e que deve ser novamente citado aqui. Recusamo-nos a começar com seu testemunho, mas este deve agora ser considerado. Caesar usa estas palavras: "O principal deus dos gauleses é Mercúrio e há imagens dele em toda parte. Diz-se que é o inventor de todas as artes, o guia de cada viagem e jornada e o deus mais influente nos negócios e questões financeiras. Depois dele, adoram Apolo, Marte, Júpiter e Minerva. Esses deuses têm as mesmas áreas de influência que entre os outros povos. Apolo afasta as doenças, Minerva é a mais influente nos ofícios, Júpiter governa o céu e Marte é o deus da guerra." Assim, os grandes deuses dos celtas parecem corresponder mais ou menos exatamente aos grandes deuses dos romanos e teriam compartilhado entre si, como fazem estes, os vários domínios da atividade humana. Tal coincidência é a priori surpreendente. Em vista da divergência profunda na mentalidade e estrutura social que observamos entre romanos e celtas, devemos espantar-nos com essa semelhança em suas ideias religiosas; e uma comparação desse texto com os documentos gauleses confirma a suspeita.

Se considerarmos as deusas, observamos entre as deusas-mães divindades da água e da floresta, deusas da fertilidade que protegem certos animais e deusas da guerra, mas em parte alguma uma Minerva, padroeira das artes. Isso não significa que alguma deusa-mãe não desempenhasse esse papel. E com efeito encontraremos na Brigit tripla uma padroeira das artes entre os celtas insulares. Caesar pode ter observado essa qualidade em alguma deusa gaulesa desconhecida para nós, ou mesmo em alguma que conhecemos, porém não com essa conexão. A qualidade que lhe era familiar e, portanto, imediatamente compreensível, sugeriu uma identificação apressada calculada para satisfazê-lo e confundir-nos. O testemunho de Caesar é importante na medida em que lança luz sobre um aspecto das deusas-mães que é confirmado pela tradição irlandesa e sobre o qual a tradição gaulesa é silenciosa. Contudo, ao aceitá-lo tal como colocado, formaremos uma noção equivocada das complexas deusas dos celtas.

No caso dos deuses, estamos na mesma situação. Podemos acreditar que os deuses gauleses eram guerreiros, artesãos, curadores e governavam certos fenômenos celestes. Isso fica exemplificado pelas contradições dos comentaristas que tentaram acomodar a evidência independente de Lucanus com o sistema delineado por Caesar. Na passagem acima citada, Lucanus enumera três deuses adorados pelas tribos gaulesas: Teutates, Esus e Taranis. Nada há que sugira serem estes os três grandes deuses gauleses, menos ainda que fossem os três principais deuses dos gauleses, uma concepção que, como vimos, não corresponde a qualquer realidade. Porém, à luz do testemunho de Caesar, somos conduzidos a achar uma equivalência entre estes deuses e aqueles que ele definiu; e os comentaristas de Lucanus fizeram essa tentativa. O nome Taranis, que significa "Trovejante" (cf. irlandês torann, "trovão") indica uma identificação com Júpiter. No entanto, entre Esus e Teutates, qual corresponde a Marte e qual a Mercúrio? Há tão pouca concordância que os dois comentaristas responderam a questão em termos contraditórios, de modo que encontramos tanto Esus quanto Teutates identificados a cada um dos dois deuses romanos. Já vimos que Teutates é de fato "o deus da tribo" e ele deve ter sido visto em alguns momentos como deus da guerra, em outros momentos como deus da indústria, conforme fosse invocado em tempo de guerra ou de paz. Indubitavelmente, o mesmo ocorria no caso de Esus, cujo nome pode significar "mestre", se estiver correta a comparação com o latim "erus". Lucanus o descreve como o senhor sanguinário de tribos belicosas, mas, nos altares de Trier e Paris, ele surge como o benigno padroeiro de uma corporação pacífica de construtores. De forma semelhante, o irlandês Lug é um artesão de muitos talentos, inclusive um curador, mas também um guerreiro cuja lança nunca erra o alvo. Universal e completa
eficiência é o caráter de todos os deuses célticos e os vemos combater ou dar ajuda e conselho, de acordo com as necessidades de seu povo.

Não obstante, há um ponto do testemunho de Caesar que deve ser lembrado e exige interpretção. É a proeminência que ele atribui ao Mercúrio gaulês sobre os outros deuses, incluindo o senhor do céu. Isso conflita tão fortemente com as noções a que somos familiares que somos levados a aceitá-la; e, além disso, ela é confirmada pela tradição irlandesa. Não devemos, entretanto, atirar-nos à conclusão de que os gauleses distinguiam um deus das artes e ofícios em oposição a um deus da guerra e preferiam um ao outro. O culto de Marte, que é adorado sob cinquenta e nove títulos distintos, não é menos difundido na Gália galo-romana que o de Mercúrio, que possui apenas dezenove títulos. Devemos ao contrário supor que os gauleses davam precedência em seu mundo divino ao artesão sobre o guerreiro e que ambas as qualidades podiam ser combinadas (e normalmente o eram) em uma só divina pessoa. Essa é, ao menos, a forma como poderíamos explicar, em termos de mitologia céltica, o fato que impressionou Caesar e que este explicou em termos romanos.

Algumas característias gerais emergiram deste breve apanhado: a multiplicidade das pessoas divinas, algumas vezes em forma tríplice; o caráter tribal, marcante no caso dos deuses; o caráter local, especialmente no caso das deusas; a importância das deidades femininas, deusas da guerra ou deusas-mães; a associação frequente dessas divindades femininas aos deuses tribais; a ausência de diferenciação de funções entre os deuses e a importância do artesão na hierarquia celestial. Essas características surgem apenas como sombras em nossa imagem do mundo religioso dos gauleses, pois nosso conhecimento imperfeito permite meramente um esboço; iremos vê-las novamente, no entanto, desenhadas com mais clareza e realçadas pelo rico colorido de uma mitologia viva na tradição épica dos celtas insulares.

Fonte:
Sjoestedt, Marie-Louise. Celtic Gods and Heroes. Courier Dover Publications, Chemsford, MA, 2000, p. 14-23. ISBN 0-486-41441-8.

segunda-feira, 7 de março de 2011

A MARCA DA BRUXA - Uma Superstição Medieval


Os exames nas bruxas, mesmo quando feitos em boa fé, se assim se pode chamar a sinceridade da ignorância maliciosa, eram levados a efeito presididos pela mais abjeta superstição. Alguns funcionários provavam sua eficiência descobrindo as marcas das bruxas e assim identificando-as como traficantes de bruxaria. O mais célebre desses advogados chamava-se Mattew Hopkins, que exercia sua profissão nos condados de Essex, Norfolk, Huntingon e Suffolk, na Inglaterra, nos meados do século XVII, sob o titulo que ele mesmo se havia conferido de "descobridor geral de bruxas’.
Tendo obtido a licença autorizando-o a examinar todas as suspeitas de bruxaria, ele aplicava torturas que obrigavam as vítimas a confessar a culpabilidade das ações mais improváveis e até mesmo impossíveis. As confissões, naturalmente, eram invariável e rapidamente seguidas da pena de morte. O descobridor geral de bruxas fazia saber que possuía certa caderneta que obtivera do diabo, enganando-o. Nesse livro, havia uma lista de todas as bruxas, assim como das pessoas que, na Inglaterra, consultavam as bruxas. Desta fonte superior ele tirava informações exclusivas, possibilitando-o a continuar sua descoberta de bruxas com o maior sucesso.
Hopkins era, na verdade, um bandido desumano e parece incrível que, mesmo nessa época, esse impostor, por um período de vários anos, pudesse continuar suas práticas monstruosas com a aprovação oficial. Só nos condados de Essex e Suffolk, foi o responsável por nada menos de 260 condenações, sendo a maioria de penas capitais. Residindo em Manningthee, Essex, Hopkins viajava com seus dois assistentes, uma mulher e um homem, de um lugar para outro, cercando os suspeitos — em geral pessoas excêntricas, que os espiões haviam informado serem suspeitas ou da prática de bruxaria ou de consulta de bruxas.
O teste que Hopkins aplicava para procurar "a marca da bruxa", como prova de culpabilidade, era o seguinte: a pessoa acusada, moça ou velha, honesta ou desavergonhada, era inteiramente despida e faziam-na sentar-se, pernas cruzadas, num banco ou mesa no centro de algum celeiro. Se a pessoa que estava sendo julgada resistia, recorria-se a força e era amarrada com cordas. Introduziam-lhe então na carne alfinetes compridos "para encontrar a marca" que provaria tratar-se de uma bruxa. Diziam ter encontrado a marca se, no momento em que o alfinete era introduzido em algum ponto ou mancha do corpo, a vitima não gritava de dor. Considerando que a tortura continuava até a perda de toda sensibilidade normal, podemos compreender facilmente que o descobridor de bruxas era sempre bem sucedido em sua busca.
Para ter certeza de descobrir a marca, mesmo no acusado mais difícil, Hopkins recorria ao embuste, usando um instrumento para picar, baseado no principio telescópio, de maneira que, quando apertado de encontro o corpo, a ponta desaparecia, como se tivesse encontrado a carne. Não sentindo dor, a paciente não reagia ao teste, e assim era considerada culpada, graças a uma verdadeira fraude. Muitas vezes a "marca" era uma mancha comum, uma pinta ou algumas elevação carnosa semelhando vagamente uma teta ou, em casos mais raros, uma pequena glândula mamaria. Tendo sido encontrada a marca, era popular que um diabinho familiar, delegado do diabo, viria chupá-la, por isso vigiava-se por um buraco na porta e, invariavelmente, o vigia informava ter visto o diabinho executando o seu trabalho.
No The Laws Against Witches (As leis contra as bruxas), publicado em 1645, narra-se que a "bruxa tem uma teta pequena ou grande no corpo, onde o diabo suga; e além da sucção, o diabo deixa no seu corpo outras marcas, algumas vezes com um ponto azulado. E nos prosélitos inferiores o diabo fixa em alguma parte secreta do corpo uma marca, que é a sua chancela, para conhecer os seus. A parte que recebe a marca fica daí por diante insensível e não sangra, mesmo sendo picada ou unhada pela introdução de um alfinete, sovela ou agulheta".
Outro teste usado por Hopkins era o bárbaro costume antigo conhecido por "fazer nadar a bruxa". A idéia primitiva era que o puro elemento da água não receberia uma pessoa que tivesse renunciado ao batismo, como se acreditava ser o caso das bruxas; então, se a pessoa não afundava quando arrastada através da água, ficava provada a sua bruxaria. O processo deste teste — "prova judiciária pela água"— era levar a pessoa a um lago e lá amarrar-se lhe com barbante os polegares aos dedos do pé. A vítima era então colocada num lençol, cuja pontas eram afrouxadamente atadas. A trouxa seria então puxada através do lago por uma corda. Se flutuava, o que era comum por causa da qualidade flutuante da trouxa, a mulher era culpada de bruxaria e consequentemente condenada. No caso da "bruxa" afundar e ser puxada para a praia antes de morrer, a multidão em geral pedia outros testes e novos métodos de torturas eram aplicados.
Finalmente, uma espécie de justiça poética colheu Hopkins, após uma carreira pública longa demais. Críticas abertas aos seus métodos começaram a ser ouvidas. Um padre obscuro de Huntingdon teve a coragem de escrever e pregar contra as crueldades dos descobridores de bruxas em geral, e de Hopkins em particular. Em 1677, foi preso por seus conterrâneos revoltados e sofredores, e submetido ao próprio teste de "natação". Como muitas de suas vítimas em circunstâncias semelhantes, em vez de afundar, ele flutuou. Por isso foi julgado culpado e enforcado como bruxo.
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Conclusão: até quando as pessoas vão ter a mente fechada e acreditarem em bruxaria na idade média? Quem sabe com essas fontes históricas possamos clarear a mente dos seguidores do tipo ovelhinha, que tanto se rebelam por tudo e por todos, mas não são capazes de observarem seus próprios passos.
Para nós do Conselho de Bruxaria Tradicional, focamos nossos estudos dentro do paganismo, sem pretensão de certo ou errado, nosso compromisso está no estudo, na busca por sabedoria e extase, aos que pensam diferente, que fiquem com a visão cristã, com o período das mortes medievais, com a mistureba de sistemas mágicos, mas lembrem, cada crença tem seu nome, seja Catimbó, seja Tambor de Mina, seja Umbanda, é desonroso se apropriar da crença/ cultura alheia para satisfazer o ego e dizer que isso é bruxaria tradicional, pois no máximo que podemos classificar em feitiçaria baseada em sistemas tradicionais.
Caros, antes de aprenderem magia, aprendam a língua portuguesa, mais propriamente etimologia, vai a dica!
Etimologia - é a parte da gramática que trata da história ou origem das palavras e da explicação do significado de palavras através da análise dos elementos que as constituem. 
Cordialmente,
Conselho de Bruxaria Tradicional

sábado, 5 de março de 2011

Carnaval e o Entrudo - Crenças Pré-Cristãs


O carnaval na antiguidade era marcado por grandes festas, onde se comia, bebia e participava de alegres celebrações e busca incessante dos prazeres. O Carnaval prolongava-se por sete dias nas ruas, praças e casas da Antiga Roma, de 17 a 23 de dezembro. As atividades e comercio eram suspensos no período, os escravos ganhavam liberdade temporária para fazer o que em quisessem e as restrições morais eram relaxadas. Havia a eleição de um rei por brincadeira (rei Momo?) e comandava o cortejo pelas ruas (Saturnalicius princeps) e as tradicionais fitas de lã que amarravam aos pés da estátua do deus Saturno eram retiradas, como se a cidade o convidasse para participar da folia.

Já no período do Renascimento as celebrações incorporavam os famosos bailes de máscara (Baile de Veneza).

Na Europa um dos principais rituais de Carnaval foi o Entrudo. A palavra vem do latim e significa início, começo, a abertura da Quaresma. Existe desde 590 d.C., quando o carnaval cristão foi oficializado. O povo comemorava comendo e bebendo para compensar o jejum. Mas, aos poucos, o ritual foi se tornando bruto e grosseiro e o máximo de sua violência e falta de respeito aconteceu em Portugal, nos séculos XVII e XVIII.

No período carnavalesco, em Portugal, persiste uma série de brincadeiras que variavam de aldeia para aldeia. Em algumas notava-se a presença de grandes bonecos, chamados genericamente também de "entrudos" (boneco de Olinda).

Conforme explicação do pesquisador Felipe Ferreira, em seu livro "O Livro de Ouro do Carnaval Brasileiro, entende-se que existiam no início do século XIX, duas grandes categorias de Entrudo: O Entrudo Familiar e o Entrudo Popular.

Fonte: Conselho de Bruxaria Tradicional

quinta-feira, 3 de março de 2011

Críticas perante Bruxos Tradicionais

O grande desafio do Conselho de Bruxaria Tradicional é gerar projetos de qualidade com gente de qualidade, bem intencionada e capaz de criar algo em favor daqueles que realmente desejam caminhar sobre este senda, nós não objetivamos àqueles que discordam, que são críticos superficiais, pois na maioria das vezes estes são os mesmos que nunca fizeram nada a não ser oposição.
Não existe obrigatoriedade em seguir bruxaria tradicional, como também fazer parte do conselho ou se beneficiar de algum projeto que criamos, que aliás são vários.
Como sempre a grande maioria que se coloca em oposição, em sua maioria tem problemas de identificação de crença, acreditam que tudo que possa ter feitiçaria é bruxaria, pois dão o mesmo sentido de bruxo para feiticeiro, essa deficiência lingüística não é o foco para espiritualidade, pode ser foco para o estudo da língua portuguesa, mas conceituar etimologicamente as palavras e descobrir o sentido delas; consideramos dignos para o ensino médio, quando não primário.
Nós gostaríamos muito que as críticas fossem feitas com nome verdadeiro, com CPF, pois assim ficaria muito mais fácil e legal de acertarmos os ponteiros, visto que as agressões a pessoas e entidades estão prescritas em lei, na forma de calúnia e difamação e criminalidade dá punição tanto de retratação pública como indenização financeira.
Fora a questão de lei que esta baseada na constituição federal, nós estamos muito bem focados em nossa linha de atuação, podemos ler livros, podemos comungar de ideais, mas o requisito esta na passagem da tradição, tradição essa que não tem o mesmo significado de ordem iniciática, e sim de passar o conhecimento que foi transmitido, não somente pela oratória, mas pela prática, pelos caminhos que muitos buscam através de livros, de outras religiões, mas que claramente não conseguem obter e ficam nos atos infantis.

O que mais nos diverte é essa corrida maluca por iniciações em diversas correntes místicas, onde se estuda tudo e não se é nada, francamente se ao final de tudo o que gastou com livros, de todas as iniciações que roubaram seu dinheiro, ainda assim menciona a pergunta “O que eu sou?” francamente, a resposta para isso não cabe no texto, mas por isto e por diversas outras charlatanices que fornecemos orientação e não iniciação, iniciação é algo sagrado para nós, e somente a partir do auto-conhecimento, do equilíbrio emocional, da educação, do controle do ego, do saber escutar é que se começa a pensar em iniciação, alias antes de ser bruxo precisa ser gente!
Com relação a outras ordens, tal como Tubal Cain, ABRAWICCA, IBWB, citada por um iniciante, nós respeitamos todas as ordens, podemos não COMPARTILHAR das mesmas crenças, mas respeitamos.
Ou seja, cada macaco no seu galho.
Aos que desejam receber informativos, temos uma excelente lista , envie um email para:
Como o próprio nome diz, é uma lista de informativos e para tirar dúvidas.
Cordialmente,
CBT - Conselho de Bruxaria Tradicional