segunda-feira, 21 de março de 2011

OS DEUSES DOS CELTAS CONTINENTAIS



Marie-Louise Sjoestedt
Enquanto dependemos do testemunho dos celtas insulares para os mitos, para as imagens temos alguns documentos no tocante aos celtas do continente. Esses documentos são de dois tipos: textos de escritores antigos e inscrições e monumentos gauleses e galo-romanos. Os textos latinos e gregos são breves, enfáticos e sugerem concepções análogas às que são familiares em outras mitologias, sendo, portanto, tranquilizadoras.

As inscrições (meros nomes ou epítetos de divindades) e os monumentos (na medida em que são puramente célticos, pois devemos considerar a possibilidade de influência romana) nos dão somente alusões que não são fáceis de interpretar e lançam apenas um pouco de luz sobre um mundo de noções obscuras. Fica-se tentado a usar os textos como pontos de partida com o fito de explicar os monumentos e isso para ajustar os fragmentos do quebra-cabeça na moldura pronta que algum parágrafo de Caesar fornece. Porém, essa tentação deve ser evitada, pois é mais seguro perambular sem guia num país não mapeado do que confiar totalmente em um mapa traçado por homens que vieram só como turistas e muitas vezes com julgamento tendencioso. Desse modo, avançaremos como se jamais grego ou romano houvessem visitado um território céltico e examinaremos primeiro os documentos nativos. Estaremos então prontos para comparar nossas descobertas com o que outros escritores relataram.

O primeiro fato que nos atinge é a multiplicidade de teônimos e a escassez dos exemplos da ocorrência de cada um deles. De acordo com uma estimativa antiga, que provavelmente não está sujeita e nenhuma correção de monta, de 374 nomes atestados nas inscrições, 305 ocorrem uma única vez. Os nomes mais frequentemente mencionados são os dos deuses Grannos (19 vezes) e Belenos (31 vezes) e das deusas Rosmerta (21 vezes) e Epona (26 vezes).
Os nomes dos deuses gauleses são uma legião e o número não ficou explicado por esses processos paralelos de sincretismo e expansão que noutros lugares resultou na definição e fixação das características dos deuses. No período galo-romano, quando os cultos nativos tornaram-se integrados ao sistema religioso imperial, uma única deidade romana representava uma multiplicidade de deuses locais cuja lembrança ficava preservada no epíteto do estrangeiro importado. Assim, cinquenta e nove epítetos diferentes são ligados ao nome de Marte: Marte Teutates é o Teutates que conhecemos de Lucanus; Marte Segomo é o Segomo cujo culto aparece em Munster e cujo nome ocorre no do herói irlandês Nia Segamon ("Campão de Segomo"); Marte Camulus é o disfarce do deus Camulus, sem dúvida idêntico a Cumhall, pai do herói Finn (v. cap. VIII); Marte Rudianos ("o Vermelho") lembra o nome do deus-cavalo Rudiobos, pois o cavalo e a cor vermelha estão associados à terra dos mortos e à guerra em todo o território céltico. Isso fica evidente pelos jaezes vermelhos da Morrígan e pelos três cavaleiros vermelhos do reino de Donn, senhor dos mortos, cujo surgimento em "A Destruição da Hospedaria de Da Derga" anuncia o destino iminente do rei Conaire. Desse modo, uma multiplicidade de deuses tribais que ele suplantou aparece sob a unidade do culto imperial de Marte.

A pluralidade de nomes em toda a extensão do território sugere que esses eram deuses tribais, os deuses de comunidades ou grupos de comunidades, pois sua distribuição parece ser política ou geográfica, em lugar de funcional. E essa sugestão é confirmada por uma útil observação feita por Vendryes. É fato bem conhecido que um dos deuses representados com mais frequência nos monumentos gauleses é o Tricephalus, um deus com três cabeças ou três faces. Temos dele trinta e duas efígies, a maioria delas da Gália setentrional. Quinze dos exemplos mais arcaicos foram encontrados no território dos Remi. Portanto, podemos considerar o Tricephalus como um deus dos Remi, ao menos quanto a sua origem. Novamente, o culto das Matres é difundido na Renânia e, especialmente, entre os Treveri. Encontramos, porém, um exemplo do Tricephalus representado numa estela em Trier e ele aparece sobrepujado pelas três Matres dos Treveri, que parecem calcá-lo aos pés. Esse momumento pode ser comparado a uma estela descoberta em Malmaison, na qual o Tricephalus está associado a um outro grupo, o par formado por Mercúrio e sua companheira, Rosmerta. No entanto, as posições estão nesse caso invertidas e o Tricephalus parece dominar o par divino. Assim, cada um dos dois povos simbolizou o triunfo de seu próprio deus sobre deuses estrangeiros ou hostis. Vendryes sem dúvida está correto ao considerar tal evidência como indicação do caráter nacional que os Remi atribuíam ao seu Tricephalus e os Treveri a suas Matres.

Esse caráter tribal do deus fica claramente explícito no nome do deus gaulês Teutates mencionado por Lucanus: "e aqueles que com sangue maldito pacificam o selvagem Teutates, de Esus os santuários hórridos, e os altares de Taranis, cruéis como aqueles amados pela Diana dos Citas". Supôs-se que Teutates fosse um dos grandes deuses gauleses, mas essa hipótese fica invalidada pelo fato de que ele é mencionado alhures em uma única inscrição e era, provavelmente, adorado apenas por alguma tribo obscura. Deveras, o nome significa simplesmente "(o deus) da tribo" (gaulês touto-, teuta-, irlandês túath, "tribo"), título que corresponde a uma fórmula familiar das sagas ilandesas: "Juro pelo deus (ou deuses) pelo qual meu povo jura!" Cada povo gaulês posuía, então, seu Teutates e cada um adorava-o com um nome diferente ou com um dos títulos: Albiorix, "Rei do Mundo"; Rigisamus, "Muito Majestoso"; Maponos, "o Grande Jovem"; Toutiorix, "Rei da Tribo"; Caturix, "Rei da Batalha"; Loucetius, "o Brilhante", que talvez não sejam mais do que formas de invocar o deus sem profanar seu nome, por meio de uma precaução correspondente à sugerida pela fórmula irlandesa. Como esses deuses de povos ou tribos surgem à imaginação dos gauleses? Sem discutir detalhadamente as imagens, observaremos algumas características gerais.

Em primeiro lugar, figuras triplas são importantes, deuses com três cabeças ou três faces e grupos de três deusas. O número três desempenha um grande papel na tradição céltica; a "tríade", uma fórmula que combina três fatos ou rês preceitos, é um gênero que domina a literatura gnômica de Gales e da Irlanda e personagens triplos ou trios são proeminentes nas tradições épicas dos dois povos. Outro fato notável é o distintivo caráter mais ou menos zoomórfico das efígies, algumas vezes expresso em forma mais evoluída do mesmo tipo mitológico pela associação de um animal com o deus. Um exemplo é oferecido por Cernunnos ("o Chifrudo"), o deus cujo culto é mais amplamente atestado. Ele é representado com os chifres de um carneiro ou gamo, acocorado no chão. A postura lembra a do Buda, mas isso deve ter sido habitual aos gauleses, cujo mobiliário não incluía nenhum tipo de cadeira. Ele está frequentemente acompanhado de uma ou duas serpentes com chifres e o deus chifrudo com uma serpente aparece no famoso caldeirão de Gundestrup. Certas variações mostram uma deidade feminina, ou uma figura de três cabeças, do mesmo tipo.

Esse elemento zoomórfico aparece com mais clareza nas figuras femininas que nas masculinas; uma das deusas mais familiares é Epona, cujo nome significa "a Grande Égua" e que surge motada em lombo de cavalo, acompanhada por uma égua com seu potro; a galesa Rhiannon, "a Grande Rainha", tem sido reconhecida como uma deusa-égua comparável a Epona. Encontramos também uma deusa-ursa, Artio, e não pode haver dúvida que o nome de Damona, formado como Epona, significa "a Grande Vaca" (cf. irlandês dam, "boi").

Essas deidades femininas ocupam um grande espaço no mundo religioso dos gauleses. Elas podem ser divididas em duas classes. A primeira é a das deusas tutelares, que são ligadas à própria terra e a características locais, fontes ou florestas, ou, novamente, aos animais que os frequentam, e que controlam a fertilidade da terra, como demonstrado pelo corno da abundância que é um de seus atributos. Tais são as Matres e Epona e as deusas da água (Sirona na Gália oriental e Brixia, a companheira de Luxovius, o deus aquático de Luxeuil) ou das florestas (Dea Arduina das Ardennes). A segunda classe, que é menor, é a das deusas da guerra: por exemplo, Andarta, dos Vocontii, ou Andrasta, que era invocada por Boudicca antes de entrar em batalha, ou Nemetona, cujo nome assemelha-se ao de Nemain, uma das três Morrígna da tradição irlandesa (v. p. 32). Os dois tipos, dos quais um representa os poderes de fertilidade, o outro, os poderes de destruição, aparecem separadamente no território continental. Encontramo-los fundidos nas pessoas das mesmas divindades na tradição insular, que representa, nesse aspecto como em outros, uma concepção menos analítica e mais arcaica que a gaulesa.

Muitas das deusas usualmente aparecem como companheiras de um deus. Brixia e Luxovius já foram citados e Sirona é comumente associada a Grannos ou, algumas vezes, a Apolo; Nemetona aparece nos monumentos ao lado de Marte, que, sem dúvida, substitui nesses casos algum deus guerreiro céltico; do mesmo modo, Rosmerta é a companheira de Mercúrio. Contudo, o par que se vê com mais frequência é Sucellos e Nantosuelta.

Sucellos, "o Deus do Malho", cujo nome significa "Bom Golpeador" tem sido identificado a Dispater, ancestral dos gauleses, de quem Caesar nos fala. A aparência desse deus barbudo, vestido com a túnica curta que era o traje nacional dos gauleses, expressando força e autoridade e, ao mesmo tempo, uma certa benevolência, combina bastante com a ideia de um deus-pai e lembra, em muitos aspectos, o deus principal dos irlandeses, o Dagda (v. Cap. III). Seus atributos são o malho, arma do "Bom Golpeador", e o cálice ou prato, símbolo da abundância, e há um contundente paralelo com os dois atributos do Dagda, a maça que derruba seu inimigo e o inexaurível caldeirão que assegura a abundância a seu povo. Portanto, essas divindades possuem as duas características que definem a função do deus-pai, que é, a um só tempo, guerreiro e, assim, protetor e nutridor. O nome de sua companheira, Nantosuelta, é obscuro, mas o primeiro elemento pode ser reconhecido como significando "rio" (cf. galês nant, "correnteza"). Assim, encontramos em solo gaulês uma associação de um deus-pai como uma deusa fluvial local, que é confirmada por um episódio da mitologia irlandesa em que o Dagda é associado ao Boyne, o rio sagrado da Irlanda (v. p. 41). Outros pares podem ser acrescentados a essa classe. Na região de Salzbach, um "deus do malho" está associado à deusa Aeracura, que aparece com um corno da abundância e um cesto de frutos, atributos das Matres. Na mitologia dos celtas insulares, encontraremos novamente esses pares, compostos por um deus principal e uma das Matres e não há dúvida de que representam uma das noções fundamentais da religião céltica.

Deuses tribais e deusas-mães: é possível ir além dessa caracterização geral das divindades gaulesas? É possível encontrar um traço de separação de suas funções e atividades? A tentativa tem sido feita por força do parágrafo de Caesar que é citado com frequência e que deve ser novamente citado aqui. Recusamo-nos a começar com seu testemunho, mas este deve agora ser considerado. Caesar usa estas palavras: "O principal deus dos gauleses é Mercúrio e há imagens dele em toda parte. Diz-se que é o inventor de todas as artes, o guia de cada viagem e jornada e o deus mais influente nos negócios e questões financeiras. Depois dele, adoram Apolo, Marte, Júpiter e Minerva. Esses deuses têm as mesmas áreas de influência que entre os outros povos. Apolo afasta as doenças, Minerva é a mais influente nos ofícios, Júpiter governa o céu e Marte é o deus da guerra." Assim, os grandes deuses dos celtas parecem corresponder mais ou menos exatamente aos grandes deuses dos romanos e teriam compartilhado entre si, como fazem estes, os vários domínios da atividade humana. Tal coincidência é a priori surpreendente. Em vista da divergência profunda na mentalidade e estrutura social que observamos entre romanos e celtas, devemos espantar-nos com essa semelhança em suas ideias religiosas; e uma comparação desse texto com os documentos gauleses confirma a suspeita.

Se considerarmos as deusas, observamos entre as deusas-mães divindades da água e da floresta, deusas da fertilidade que protegem certos animais e deusas da guerra, mas em parte alguma uma Minerva, padroeira das artes. Isso não significa que alguma deusa-mãe não desempenhasse esse papel. E com efeito encontraremos na Brigit tripla uma padroeira das artes entre os celtas insulares. Caesar pode ter observado essa qualidade em alguma deusa gaulesa desconhecida para nós, ou mesmo em alguma que conhecemos, porém não com essa conexão. A qualidade que lhe era familiar e, portanto, imediatamente compreensível, sugeriu uma identificação apressada calculada para satisfazê-lo e confundir-nos. O testemunho de Caesar é importante na medida em que lança luz sobre um aspecto das deusas-mães que é confirmado pela tradição irlandesa e sobre o qual a tradição gaulesa é silenciosa. Contudo, ao aceitá-lo tal como colocado, formaremos uma noção equivocada das complexas deusas dos celtas.

No caso dos deuses, estamos na mesma situação. Podemos acreditar que os deuses gauleses eram guerreiros, artesãos, curadores e governavam certos fenômenos celestes. Isso fica exemplificado pelas contradições dos comentaristas que tentaram acomodar a evidência independente de Lucanus com o sistema delineado por Caesar. Na passagem acima citada, Lucanus enumera três deuses adorados pelas tribos gaulesas: Teutates, Esus e Taranis. Nada há que sugira serem estes os três grandes deuses gauleses, menos ainda que fossem os três principais deuses dos gauleses, uma concepção que, como vimos, não corresponde a qualquer realidade. Porém, à luz do testemunho de Caesar, somos conduzidos a achar uma equivalência entre estes deuses e aqueles que ele definiu; e os comentaristas de Lucanus fizeram essa tentativa. O nome Taranis, que significa "Trovejante" (cf. irlandês torann, "trovão") indica uma identificação com Júpiter. No entanto, entre Esus e Teutates, qual corresponde a Marte e qual a Mercúrio? Há tão pouca concordância que os dois comentaristas responderam a questão em termos contraditórios, de modo que encontramos tanto Esus quanto Teutates identificados a cada um dos dois deuses romanos. Já vimos que Teutates é de fato "o deus da tribo" e ele deve ter sido visto em alguns momentos como deus da guerra, em outros momentos como deus da indústria, conforme fosse invocado em tempo de guerra ou de paz. Indubitavelmente, o mesmo ocorria no caso de Esus, cujo nome pode significar "mestre", se estiver correta a comparação com o latim "erus". Lucanus o descreve como o senhor sanguinário de tribos belicosas, mas, nos altares de Trier e Paris, ele surge como o benigno padroeiro de uma corporação pacífica de construtores. De forma semelhante, o irlandês Lug é um artesão de muitos talentos, inclusive um curador, mas também um guerreiro cuja lança nunca erra o alvo. Universal e completa
eficiência é o caráter de todos os deuses célticos e os vemos combater ou dar ajuda e conselho, de acordo com as necessidades de seu povo.

Não obstante, há um ponto do testemunho de Caesar que deve ser lembrado e exige interpretção. É a proeminência que ele atribui ao Mercúrio gaulês sobre os outros deuses, incluindo o senhor do céu. Isso conflita tão fortemente com as noções a que somos familiares que somos levados a aceitá-la; e, além disso, ela é confirmada pela tradição irlandesa. Não devemos, entretanto, atirar-nos à conclusão de que os gauleses distinguiam um deus das artes e ofícios em oposição a um deus da guerra e preferiam um ao outro. O culto de Marte, que é adorado sob cinquenta e nove títulos distintos, não é menos difundido na Gália galo-romana que o de Mercúrio, que possui apenas dezenove títulos. Devemos ao contrário supor que os gauleses davam precedência em seu mundo divino ao artesão sobre o guerreiro e que ambas as qualidades podiam ser combinadas (e normalmente o eram) em uma só divina pessoa. Essa é, ao menos, a forma como poderíamos explicar, em termos de mitologia céltica, o fato que impressionou Caesar e que este explicou em termos romanos.

Algumas característias gerais emergiram deste breve apanhado: a multiplicidade das pessoas divinas, algumas vezes em forma tríplice; o caráter tribal, marcante no caso dos deuses; o caráter local, especialmente no caso das deusas; a importância das deidades femininas, deusas da guerra ou deusas-mães; a associação frequente dessas divindades femininas aos deuses tribais; a ausência de diferenciação de funções entre os deuses e a importância do artesão na hierarquia celestial. Essas características surgem apenas como sombras em nossa imagem do mundo religioso dos gauleses, pois nosso conhecimento imperfeito permite meramente um esboço; iremos vê-las novamente, no entanto, desenhadas com mais clareza e realçadas pelo rico colorido de uma mitologia viva na tradição épica dos celtas insulares.

Fonte:
Sjoestedt, Marie-Louise. Celtic Gods and Heroes. Courier Dover Publications, Chemsford, MA, 2000, p. 14-23. ISBN 0-486-41441-8.

segunda-feira, 7 de março de 2011

A MARCA DA BRUXA - Uma Superstição Medieval


Os exames nas bruxas, mesmo quando feitos em boa fé, se assim se pode chamar a sinceridade da ignorância maliciosa, eram levados a efeito presididos pela mais abjeta superstição. Alguns funcionários provavam sua eficiência descobrindo as marcas das bruxas e assim identificando-as como traficantes de bruxaria. O mais célebre desses advogados chamava-se Mattew Hopkins, que exercia sua profissão nos condados de Essex, Norfolk, Huntingon e Suffolk, na Inglaterra, nos meados do século XVII, sob o titulo que ele mesmo se havia conferido de "descobridor geral de bruxas’.
Tendo obtido a licença autorizando-o a examinar todas as suspeitas de bruxaria, ele aplicava torturas que obrigavam as vítimas a confessar a culpabilidade das ações mais improváveis e até mesmo impossíveis. As confissões, naturalmente, eram invariável e rapidamente seguidas da pena de morte. O descobridor geral de bruxas fazia saber que possuía certa caderneta que obtivera do diabo, enganando-o. Nesse livro, havia uma lista de todas as bruxas, assim como das pessoas que, na Inglaterra, consultavam as bruxas. Desta fonte superior ele tirava informações exclusivas, possibilitando-o a continuar sua descoberta de bruxas com o maior sucesso.
Hopkins era, na verdade, um bandido desumano e parece incrível que, mesmo nessa época, esse impostor, por um período de vários anos, pudesse continuar suas práticas monstruosas com a aprovação oficial. Só nos condados de Essex e Suffolk, foi o responsável por nada menos de 260 condenações, sendo a maioria de penas capitais. Residindo em Manningthee, Essex, Hopkins viajava com seus dois assistentes, uma mulher e um homem, de um lugar para outro, cercando os suspeitos — em geral pessoas excêntricas, que os espiões haviam informado serem suspeitas ou da prática de bruxaria ou de consulta de bruxas.
O teste que Hopkins aplicava para procurar "a marca da bruxa", como prova de culpabilidade, era o seguinte: a pessoa acusada, moça ou velha, honesta ou desavergonhada, era inteiramente despida e faziam-na sentar-se, pernas cruzadas, num banco ou mesa no centro de algum celeiro. Se a pessoa que estava sendo julgada resistia, recorria-se a força e era amarrada com cordas. Introduziam-lhe então na carne alfinetes compridos "para encontrar a marca" que provaria tratar-se de uma bruxa. Diziam ter encontrado a marca se, no momento em que o alfinete era introduzido em algum ponto ou mancha do corpo, a vitima não gritava de dor. Considerando que a tortura continuava até a perda de toda sensibilidade normal, podemos compreender facilmente que o descobridor de bruxas era sempre bem sucedido em sua busca.
Para ter certeza de descobrir a marca, mesmo no acusado mais difícil, Hopkins recorria ao embuste, usando um instrumento para picar, baseado no principio telescópio, de maneira que, quando apertado de encontro o corpo, a ponta desaparecia, como se tivesse encontrado a carne. Não sentindo dor, a paciente não reagia ao teste, e assim era considerada culpada, graças a uma verdadeira fraude. Muitas vezes a "marca" era uma mancha comum, uma pinta ou algumas elevação carnosa semelhando vagamente uma teta ou, em casos mais raros, uma pequena glândula mamaria. Tendo sido encontrada a marca, era popular que um diabinho familiar, delegado do diabo, viria chupá-la, por isso vigiava-se por um buraco na porta e, invariavelmente, o vigia informava ter visto o diabinho executando o seu trabalho.
No The Laws Against Witches (As leis contra as bruxas), publicado em 1645, narra-se que a "bruxa tem uma teta pequena ou grande no corpo, onde o diabo suga; e além da sucção, o diabo deixa no seu corpo outras marcas, algumas vezes com um ponto azulado. E nos prosélitos inferiores o diabo fixa em alguma parte secreta do corpo uma marca, que é a sua chancela, para conhecer os seus. A parte que recebe a marca fica daí por diante insensível e não sangra, mesmo sendo picada ou unhada pela introdução de um alfinete, sovela ou agulheta".
Outro teste usado por Hopkins era o bárbaro costume antigo conhecido por "fazer nadar a bruxa". A idéia primitiva era que o puro elemento da água não receberia uma pessoa que tivesse renunciado ao batismo, como se acreditava ser o caso das bruxas; então, se a pessoa não afundava quando arrastada através da água, ficava provada a sua bruxaria. O processo deste teste — "prova judiciária pela água"— era levar a pessoa a um lago e lá amarrar-se lhe com barbante os polegares aos dedos do pé. A vítima era então colocada num lençol, cuja pontas eram afrouxadamente atadas. A trouxa seria então puxada através do lago por uma corda. Se flutuava, o que era comum por causa da qualidade flutuante da trouxa, a mulher era culpada de bruxaria e consequentemente condenada. No caso da "bruxa" afundar e ser puxada para a praia antes de morrer, a multidão em geral pedia outros testes e novos métodos de torturas eram aplicados.
Finalmente, uma espécie de justiça poética colheu Hopkins, após uma carreira pública longa demais. Críticas abertas aos seus métodos começaram a ser ouvidas. Um padre obscuro de Huntingdon teve a coragem de escrever e pregar contra as crueldades dos descobridores de bruxas em geral, e de Hopkins em particular. Em 1677, foi preso por seus conterrâneos revoltados e sofredores, e submetido ao próprio teste de "natação". Como muitas de suas vítimas em circunstâncias semelhantes, em vez de afundar, ele flutuou. Por isso foi julgado culpado e enforcado como bruxo.
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Conclusão: até quando as pessoas vão ter a mente fechada e acreditarem em bruxaria na idade média? Quem sabe com essas fontes históricas possamos clarear a mente dos seguidores do tipo ovelhinha, que tanto se rebelam por tudo e por todos, mas não são capazes de observarem seus próprios passos.
Para nós do Conselho de Bruxaria Tradicional, focamos nossos estudos dentro do paganismo, sem pretensão de certo ou errado, nosso compromisso está no estudo, na busca por sabedoria e extase, aos que pensam diferente, que fiquem com a visão cristã, com o período das mortes medievais, com a mistureba de sistemas mágicos, mas lembrem, cada crença tem seu nome, seja Catimbó, seja Tambor de Mina, seja Umbanda, é desonroso se apropriar da crença/ cultura alheia para satisfazer o ego e dizer que isso é bruxaria tradicional, pois no máximo que podemos classificar em feitiçaria baseada em sistemas tradicionais.
Caros, antes de aprenderem magia, aprendam a língua portuguesa, mais propriamente etimologia, vai a dica!
Etimologia - é a parte da gramática que trata da história ou origem das palavras e da explicação do significado de palavras através da análise dos elementos que as constituem. 
Cordialmente,
Conselho de Bruxaria Tradicional

sábado, 5 de março de 2011

Carnaval e o Entrudo - Crenças Pré-Cristãs


O carnaval na antiguidade era marcado por grandes festas, onde se comia, bebia e participava de alegres celebrações e busca incessante dos prazeres. O Carnaval prolongava-se por sete dias nas ruas, praças e casas da Antiga Roma, de 17 a 23 de dezembro. As atividades e comercio eram suspensos no período, os escravos ganhavam liberdade temporária para fazer o que em quisessem e as restrições morais eram relaxadas. Havia a eleição de um rei por brincadeira (rei Momo?) e comandava o cortejo pelas ruas (Saturnalicius princeps) e as tradicionais fitas de lã que amarravam aos pés da estátua do deus Saturno eram retiradas, como se a cidade o convidasse para participar da folia.

Já no período do Renascimento as celebrações incorporavam os famosos bailes de máscara (Baile de Veneza).

Na Europa um dos principais rituais de Carnaval foi o Entrudo. A palavra vem do latim e significa início, começo, a abertura da Quaresma. Existe desde 590 d.C., quando o carnaval cristão foi oficializado. O povo comemorava comendo e bebendo para compensar o jejum. Mas, aos poucos, o ritual foi se tornando bruto e grosseiro e o máximo de sua violência e falta de respeito aconteceu em Portugal, nos séculos XVII e XVIII.

No período carnavalesco, em Portugal, persiste uma série de brincadeiras que variavam de aldeia para aldeia. Em algumas notava-se a presença de grandes bonecos, chamados genericamente também de "entrudos" (boneco de Olinda).

Conforme explicação do pesquisador Felipe Ferreira, em seu livro "O Livro de Ouro do Carnaval Brasileiro, entende-se que existiam no início do século XIX, duas grandes categorias de Entrudo: O Entrudo Familiar e o Entrudo Popular.

Fonte: Conselho de Bruxaria Tradicional

quinta-feira, 3 de março de 2011

Críticas perante Bruxos Tradicionais

O grande desafio do Conselho de Bruxaria Tradicional é gerar projetos de qualidade com gente de qualidade, bem intencionada e capaz de criar algo em favor daqueles que realmente desejam caminhar sobre este senda, nós não objetivamos àqueles que discordam, que são críticos superficiais, pois na maioria das vezes estes são os mesmos que nunca fizeram nada a não ser oposição.
Não existe obrigatoriedade em seguir bruxaria tradicional, como também fazer parte do conselho ou se beneficiar de algum projeto que criamos, que aliás são vários.
Como sempre a grande maioria que se coloca em oposição, em sua maioria tem problemas de identificação de crença, acreditam que tudo que possa ter feitiçaria é bruxaria, pois dão o mesmo sentido de bruxo para feiticeiro, essa deficiência lingüística não é o foco para espiritualidade, pode ser foco para o estudo da língua portuguesa, mas conceituar etimologicamente as palavras e descobrir o sentido delas; consideramos dignos para o ensino médio, quando não primário.
Nós gostaríamos muito que as críticas fossem feitas com nome verdadeiro, com CPF, pois assim ficaria muito mais fácil e legal de acertarmos os ponteiros, visto que as agressões a pessoas e entidades estão prescritas em lei, na forma de calúnia e difamação e criminalidade dá punição tanto de retratação pública como indenização financeira.
Fora a questão de lei que esta baseada na constituição federal, nós estamos muito bem focados em nossa linha de atuação, podemos ler livros, podemos comungar de ideais, mas o requisito esta na passagem da tradição, tradição essa que não tem o mesmo significado de ordem iniciática, e sim de passar o conhecimento que foi transmitido, não somente pela oratória, mas pela prática, pelos caminhos que muitos buscam através de livros, de outras religiões, mas que claramente não conseguem obter e ficam nos atos infantis.

O que mais nos diverte é essa corrida maluca por iniciações em diversas correntes místicas, onde se estuda tudo e não se é nada, francamente se ao final de tudo o que gastou com livros, de todas as iniciações que roubaram seu dinheiro, ainda assim menciona a pergunta “O que eu sou?” francamente, a resposta para isso não cabe no texto, mas por isto e por diversas outras charlatanices que fornecemos orientação e não iniciação, iniciação é algo sagrado para nós, e somente a partir do auto-conhecimento, do equilíbrio emocional, da educação, do controle do ego, do saber escutar é que se começa a pensar em iniciação, alias antes de ser bruxo precisa ser gente!
Com relação a outras ordens, tal como Tubal Cain, ABRAWICCA, IBWB, citada por um iniciante, nós respeitamos todas as ordens, podemos não COMPARTILHAR das mesmas crenças, mas respeitamos.
Ou seja, cada macaco no seu galho.
Aos que desejam receber informativos, temos uma excelente lista , envie um email para:
Como o próprio nome diz, é uma lista de informativos e para tirar dúvidas.
Cordialmente,
CBT - Conselho de Bruxaria Tradicional

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Esvazie seu copo

Esta história é uma dica para quem quer entrar "no mundo" da Bruxaria Tradicional.

Ele se considerava um grande mestre porque havia estudado todos os livros de todas as escolas de mistério da face da terra, sua busca pelo conhecimento o havia conduzido a lugares, a iniciados e a tomos de magia que antes ele nem sabia ser possível existir.

Então, refletindo sobre sua vida e onde já tinha passado, ele percebeu que existia apenas um lugar que ele não havia visitado. Era o de um ancião que vivia solitário em uma choupana no local mais inacessível da floresta, era um homem estranho que não era coberto de títulos e comendas como os outros mestres que até então ele já encontrara, era uma pessoa que vivera toda sua vida nas florestas e de lá extraira tudo o que sabia.

Então ele foi visitar este homem em busca de conhecimento. Enquanto o ancião servia lentamente chá em seu copo, ele comentava os livros antigos dos mestres, os exercícios dos gurus iogues, analisava os textos das tradições secretas de conhecimento, interpretava as histórias e as tradições dos grandes iniciados, divagava sobre os antigos processos de reflexão e hierarquias ocultas. Fez todo o possível para impressionar seu anfitrião, na esperança que este o aceitasse como discípulo.

Enquanto falava, o ancião continuava enchendo seu copo, até que o copo transbordou e o chá começou a espalhar-se pela mesa inteira. Nessa hora, assustado, ele parou de monologar e fez uma pergunta:

- O que o senhor está fazendo? Não vê que o copo já está cheio e nada mais cabe em seu interior?

- Sua alma é como este copo. Como eu posso ensinar-lhe a verdadeira arte do conhecimento se ela já está cheia de teorias e sabedorias? - respondeu o ancião.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Entrevista com Ricardo Draco

O movimento holístico antares entrevistou Ricardo DRaco, num debate onde foram abordadas vários temas. As perguntas  foram formuladas por pessoas que desejam seguir por um caminho pagão. Os temas são Bruxaria Tradicional, Xamanismo Celta e Paganismo.

 
Antares - Qual o grande mistério que envolve o nome bruxaria hoje em dia?
DRaco - Mistérios... bom, o que existe é a mal interpretação do rótulo Bruxaria, nunca entendi porque tanta gente se exalta para compreender a sutileza do tema, acredito que o maior mistério reside em nós mesmos, Bruxaria ou qualquer caminho é apenas uma ferramenta para um objetivo como é toda religião/ filosofia.
 
Antares - Mas o que se deve a esta mal interpretacão?
DRaco - Se deve a mídia comercial, ao pensamento urbano prevalecendo em cima do rural ou do campo, de mesma forma e sentimento o homem da cidade luta para adquirir o conhecimento da natureza porém esta luta se encerra quando o individuo fica limitados aos preceitos da sociedade onde vive.
 
Antares - O senhor julga que o paganismo hoje não esta adequado ao que deveria ser?
DRaco - Pelo simples analisar, estamos bem longe de termos um movimento sincronizado com a natureza, por diversos fatores, e diante dos mesmos tenta-se criar um novo modelo, o Neo-Paganismo.
 
Antares - Qual a diferenca entre Paganismo e Neo-Paganismo?
DRaco - A mesma de um caldeirão, no primeiro é usado para fazer comida, poções, no segundo para acender uma vela dentro, para ritualística, para mera contemplação.
 
Antares - Não ficou muito claro, o senhor poderia ser mais objetivo?
DRaco - Objetivo é a palavra, o objetivo no paganismo é a interpretacão de uma cultura nativa, do entendimento das leis da natureza através da vivëncia, o neo-paganismo é a solução da deficiëncia do homem da cidade, que em sua maioria não pretende mudar suas rotinas urbanas mas se simpatiza com o meio pagão.
 
Antares - Sobre o tema Bruxaria o que o senhor poderia nos esclarecer?
DRaco - Isso vai depender do que se pode entender como Bruxaria, hoje existe muita desinformacão sobre o tema.
 
Antares - Qual a definicão de Bruxaria?
DRaco - Bruxaria são as antigas crenças européias, é uma crença da floresta, onde se é necessário ser pagão, ou seja, alguem que busque sair do meio urbano e caminhar por uma ótica diferente.
 
Antares - Essa pergunta é muito comentada mas é necessária ser colocada, Bruxaria e Wicca são a mesma coisa?
DRaco - Eis a questão, depende do que se entende por bruxaria, no meu conceito são ideologias distintas, uma ligada ao paganismo e outra ao neo-paganismo, a partir disso fica claro as diferencas.
 
Antares - Mas o que une uma a outra?
DRaco - O que une é a mal informação de certo ponto, por outro lado é a busca por um pensamento diferente das religiões mais comuns, ou seja, as pessoas estão buscando sua espiritualidade em outros nichos.
 
Antares - O que é necessario para se ser um bruxo?
DRaco - Um bruxo luta por consciëncia, pelo crescimento e sabedoria, para começar a ser um bruxo se deve vencer o seu maior inimigo, ou seja, lutar contra sí mesmo, contra egös, contra conceitos pessoais, vencer seus limites, ter toleräncia, respeitar diferenças, ter suas dúvidas pessoais mas não deixar que as mesmas te dominem.
Ser um bruxo é ter o espirito forte, ser centrado em sí mesmo, não deixar que expectativas, aceitação, status, poder e dinheiro  governem sua vida, e isso é muito raro, a maioria das pessoas não concebem uma visão diferente de suas rotinas e crenças e a sua incapacidade de ir além se esgota devido a sua limitação pessoal.
 
Antares - Como podemos vencer nossa limitação pessoal?
DRaco - Muito fácil, o primeiro passo é o desejo de querer se superar, o segundo é se permitir e conceber e o terceiro é saber que não existem reponsável por suas pernas a não ser o próprio individuo.
O que adianta fazer terminar um processo longo de introspecção se suas ações e mentalidade continuam as mesmas? se suas dúvidas vivem num processo cíclico do tipo "tostines" - Tostines vende mais porque é mais fresquinho ou porque é mais fresquinho vende mais?! risos
 
Antares - Dentro do seu trabalho em grupo e de suas vivências o que tem mais aprendido ou ensinado?
DRaco - Tenho aprendido muitas coisas e ensinado também muitas outras.
 
Antares - Tudo bem mas poderia nos dar um exemplo?
DRaco - Tenho aprendido a conviver com a espectativa alheia, com a ingratidão, valorizar a privacidade, o poder destrutivo do ego pode fazer com as pessoas e que eu posso ensinar valorosos ensinamentos e propiciar as melhores vivências espirituais porém muitos ainda assim possuem necessidades emocionais onde aquele que ensina DEVE abastecer tal como ser o pai, deve ser o mestre iluminado, o responsável pelo caminho das pessoas, ou seja, o burro de carga das expectativas alheias, o culpado, o diplomata, etc..
Tenho ensinado tolerância, amor, paz, pensamentos que fazem bem a alma, tenho mostrado as faces ocultas do discipulo e como mudar o foco de visão, as outras realidades paralelas.
Por fim, daria para escrever páginas e páginas, mas tudo isso aprendemos com a convivência em grupo, observando os ensinamentos e aprendendo a interpretá-los na integra e não de forma distorcida aos propósitos individuais.

Antares - Como interpretá-los na integra e não de forma distorcida aos propósitos individuais?
DRaco - A maioria das pessoas não quer mudar, elas continuam querendo ser as mesmas porém com uma nova casca mais fashion, muitos desejam ser bruxos sem assumir por completo esta condição. De mesma forma e conteúdo, pegam uma filosofia e ao invês de mudarem seus pensamentos de modo a entenderem os conceitos e fundamentos, fazem o caminho inverso, transformam o caminho no que eles pensam e moldam os principios de um caminho aos seus principios pessoais.
Geralmente as pessoas tem muito medo de mudanças, uma mudança pode ser bem dolorida se o individuo não a toma de maneira natural e com flexibilidade.
 
Antares - Pelo que notamos a mudança é importante para um bruxo?
DRaco - Não é a toa que um dos simbolos da Bruxaria seja a mariposa! rs
 
Antares - O que quer dizer Bruxaria Tradicional Ibero Celta?
DRaco - Bruxaria = cultura nativa pré-cristã
Ibero Celta = região da península Iberica onde os celtas se estabeleceram
E por fim tradicional, por ser toda bruxaria um culto de raíz ligado a costumes, folclore, ancestralidade, religiosidade, etc...

Antares - Como funciona a linha de ancestralidade na Bruxaria?
DRaco - Pode funcionar de duas maneiras, por laços familiares e laços de espiritualidade, a primeira responde por sí só e a segunda é quando o individuo tem a oportunidade de vivênciar de todo o agregado filosofico, místico, ou seja, de todos os elementos de um caminho espiritualista.
 
Antares - Bruxaria é religião?
DRaco - Religião é uma palavra derivada do latim para religação, Bruxaria é uma forma de religação, porém não é nenhuma instituição religiosa. Portanto ela não gera ou não deveria gerar diplomas, títulos, nada que distancie o homem de seu principal foco, o natural, o simples, magico e intuitivo.
 
Antares - E como se pode diferenciar um bruxo de alguem qualquer?
DRaco - Pelo conhecimento, pela vivência e não pelas roupas que usa e nem dos meios que se coloca, existem pessoas que em suas discussões jogam seus títulos para provarem que estão certos, jogam seu tempo de "casa", seus bens materiais, bruxos não precisam disto um bruxo aceita uma discussão e a aproveita, retira o sumo importante e descarta o resto.
Uma vez um amigo que fazia artes marciais me contou que seu mestre teria o conhecimento de tecnicas mortais de luta e por isso ele não fazia a menor questão de lutar em campeonatos e entrar em alguma briga, acredito que o bruxo que conhece o poder não o utiliza de forma superficial, não necessita de aceitação, não tem dependência emocional ou ser o cidadão que a sociedade espera, ele pode se vestir de terno, pode transitar por prédios, igrejas, terreiros, passar de forma transparente, no fundo um bruxo se diferencia pelos seus pensamentos não precisa exteriorizar para que os outros saibam a não ser que ele queira, a não ser que veja nisso um ato de passar conhecimento ou vivenciar algum.

Antares - Mas com esta maneira de observar, conforme o que colocou, o senhor não estaria indo contra o que prega? o senhor é conhecido, tem listas de discussão, site, faz workshoops e palestras...
DRaco - Eu não utilizo destes meios para me vangloriar, entendo que são apenas ferramentas, ferramentas de divulgação de conhecimentos, de textos, de pensamento, de filosofia e isso é uma maneira de contribuir com a comunidade que possue afinidade com o paganismo, geralmente não me deixo desviar pelo ego, mesmo as pessoas que me conhecem a mais tempo não sabem o tempo que tenho de caminho pagão, muitos nunca me viram me prevalecer de algum título para forçar uma aceitação do meu pensamento.
 
Antares - Não seria mais fácil o senhor se apoiar na tradicionalidade, nos títulos que possue a fim de evitar aborrecimentos?
DRaco - Nem sempre o caminho mais fácil é o melhor, como disse, um bruxo não necessita destes apegos, que pessoa seria eu que prego a simplicidade e humildade resolvendo julgos e críticas pelo simples fato de apresentar minhas titularidades e brasões? se eu prego a ver além das aparências, de um caminho simples... Se eu como bruxo necessito de tal artificio então o que sigo não faz mais sentido e o ego já tomou a minha frente e nada vejo além do material para explicar o espiritual, sendo assim a fé só existiria dentro de templos e isso para bruxos seria uma quebra de valores.

Antares - Qual a relação de um mestre com um aluno?
DRaco - Deve haver liberdade, mas também respeito, você pode discordar porém toda discussão deve se estabelecer com base em algum conceito. Um mestre é um professor, já tive alunos que não desejaram caminhar por esta trilha (Bruxaria), eu respeito o ponto de vista e a coragem que chegaram a mim e disseram, mostram que são corajosos e sinceros consigo mesmos e existiram alunos que eu também não desejei mais ensinar, pois acredito que deva existir um bom senso nas relações, que um ensinamento deva ser positivo caso ele se torne negativo então com seriedade devemos romper este "tratado" de modo a não deixar ninguem mais desequilibrado ou beirando a esquizofrenia! rs, no fundo o bruxo é um homem que anda pela linha da loucura onde a sociedade não admite se quer esta linha, o fato é que alguns conseguem andar com maestria sobre ela, outros já não possuem esta facilidade, para estes é melhor um caminho mais estável e seguro, a recomendação é que se desejam mesmo caminhar pelo paganismo que então procurem religiões mais fixas, mais dogmaticas, ser um bruxo é saber flutuar e muitos precisam do concreto chão.
 
Antares - Mas qual é a reação das pessoas quando se rompe este "tratado"?
DRaco - São diversas, todos querem ser especiais, as vezes devemos nos comportar como as tias do primário! rs, a questão é que todos temos limites, um mestre precisa de um aluno de mesma forma que o aluno precisa do mestre, um mestre espera crescimento do seu aluno, desenvolvimento de modo que ele também aprenda com as dúvidas, conflitos, entendimentos, uma outra visão, etc... e até hoje todos as ações que tomei me mostraram que eu estava certo, no começo sempre temos aquela visão se realmente
estamos tomando a medida correta, mas nada melhor que o tempo e ele acaba nos mostrando.
 
Antares - O que faz uma pessoa ser um mestre?
DRaco - Primeiro é que ele deva ter um amor além da alma, um brilho nos olhos, um abraço confortante, uma palavra de ensinamento, que ele pratique a diplomacia, tolerância e seja sábio, que ele erre mas aprenda a rir de seus erros e que eles o deixem mais forte a cada instante.
 
Antares - Em quanto tempo um aluno esta pronto para ser um mestre?
DRaco - Acredito que nunca, sempre seremos alunos, mas o maior sinal de que o individuo passou de um lado da linha para outro é quando ele se propõem a ser coletivo, onde ele saiba do seu valor e poder e não precise convencer ninguém de quem ele é mesmo que muitos coloquem ele na parede e façam suas ameaças de chamá-lo de charlatão ou mesmo de ofender o seu caminho, um mestre não precisa provar ele simplesmente é, não necessita de adornos, não esta ligado a necessidades emocionais.
 
Antares - Qual é o caminho para se tornar um bruxo?
DRaco - Dentro da Bruxaria Tradicional Ibérica, existem 3 anos de testes, é no final dos três anos que um buscador luta consigo mesmo e se vencer e quiser ele pode continuar seu treinamento, mas não mais como buscador e sim como bruxo, antes disso ele fica tomado por suas lutas interiores, descobre suas qualidades e defeitos, descobre qual o caminho deseja seguir, etc..
 
Antares - E após estes três anos?
DRaco - A partir daí ele como bruxo recebe um outro tipo de aprendizado, o trabalho com o exterior, conceitos, acesso a outras informações que estão ligados a roda do ano, aos deuses, ao mundo espiritual basicamente é isto que tenho a dizer.
 
Antares - Esta segunda fase demora quanto tempo ou não tem prazo?
DRaco - São mais 4 anos e a partir daí ele pode seguir por alguns caminhos dentro da magia.
 
Antares - Caminhos dentro da magia?
DRaco - Sim existem caminhos distintos, o da pedra (filosofico/ ensinamento) , da jornada (peregrinação) , da espada (desbravador) , etc... existem bruxos que se desenvolvem no ramo folclorista, outros na herbalogia, outros na feitiçaria, existem muitos caminhos e cada um segue conforme sua vocação.
 
Antares - E qual o seu caminho?
DRaco - O meu caminho é o da espada, caminho da luta, dos desafios, o desbravador, visto que tenho um dos sites mais completos sobre Bruxaria Tradicional, tenho uma lista de discussão e um grupo que oferece rituais de modo a dar oportunidade para as pessoas conhecerem este caminho.
 
Antares - E como o senhor se sente neste caminho
DRaco - Sinto me realizado, pois tudo que propuz a fazer fiz, ajudei muitas pessoas e ainda ajudo, recebo em torno de 200 emails dia com dúvidas, informações, amigos.
 
Antares - Com esse trabalho sempre existe a força contrária, como o senhor encara isto?
DRaco - De forma natural, existem os que constrõem e os que destrõem, eu me prontifiquei a criar e criei, tenho muitos amigos, sou uma pessoa feliz de todas as maneiras, não tenho inimigos somente pessoas de pouca afinidade, meu maior inimigo mora em mim mesmo e se engana quem pensa o contrário! rs
 
Antares - Como lidar com os conceitos da sociedade como ética, sexualidade, morte, etc?
DRaco - Um bruxo observa a vida de uma maneira diferente, com base em sua filosofia assim como é em várias religiões, a ética do bruxo abrange a busca pela sabedoria e consciência e não pelos valores morais cristãos, visto que o Brasil é o maior país cristão e sendo assim muito que temos como ética não toca o bruxo.
Sobre sexualidade, o bruxo vê com naturalidade, de forma particular e íntima, no geral o bruxo tem uma alta sexualidade devido que ele é um armazenador de energia, sua magia vem da mente, do manuseio da essência e da sexualidade, seria impossível existir um bruxo assexuado, ou um bruxo que não se voltasse a magia natural.
O principio de vida e morte é ligado a natureza também de forma muito tranquila, não como um termino e sim como um ciclo continuo.
Não existe uma escala evolutiva do mineral ao humano e sim um perfeito estado de equilibrio de funções e energia.

Antares - O senhor tem alguma dica para aqueles que desejam caminhar pela Bruxaria Tradicional?
DRaco - Eu normalmente desistimulo as pessoas, este caminho é só para aqueles que realmente não se acham especiais! é para a pessoa comum que já correu por todos os lugares e não encontrou o que desejava, é um caminho que envolve introspecção, perseverança, maturidade, desapego, para aqueles que realmente querem mudar e sair da mediocridade da vida cotidiana.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Links para pessoas interessadas em Bruxaria Tradicional

Sejam bem vindos!!!

Caso tenham interesse em saber mais sobre Bruxaria Tradicional acessem os links a seguir. Neles vocês encontrarão material de qualidade, de fonte confiável e sem distorções.



BLOG:

http://bruxaria-tradicional.blogspot.com

http://arvore-sagrada.blogspot.com/

SITE

http://bruxariatradicional.hd1.com.br/

http://www.arvoresagrada.com.br

TWITTER

@bruxariaCBT

FACEBOOK

http://www.facebook.com/pages/Conselho-de-Bruxaria-Tradicional/169821479710458

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ORKUT

http://www.orkut.com.br/main#community?cmm=109958743 (CBT)

http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=108792054 (AS)

YAHOOGRUPOS

http://br.groups.yahoo.com/group/arvore_sagrada/

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Bruxaria Tradicional e Religiões Marginalizadas

Bruxaria Tradicional e Religiões Marginalizadas

 
Este é um ponto interessante sobre qual óptica devemos analisar, seria a Bruxaria uma religião marginalizada ou todas as religiões marginalizadas são Bruxaria?

Depende da óptica! Se pensarmos como um fundamentalista cristão todas as crenças são meras manifestações religiosas, principalmente as espíritas, uma devoção ao diabo e a bruxaria.

Se mudarmos para a China e na Índia, o próprio cristianismo é uma religião marginalizada.

Partindo pelo pressuposto que toda crença marginalizada é Bruxaria, poderíamos incluir o Catolicismo? Não acreditamos que convenha dar a designação de bruxos para padres.

Observamos uma frase interessante que se resumia a: “Todo mundo quer ser Bruxo” nós francamente não teríamos toda essa convicção ao expor esta afirmação a um babalorixá, a um brâmane ou houngan.

Nós realizamos uma pesquisa e a maioria das pessoas entrevistadas declinou, umas por enfatizar a sua cultura, outras entendiam pelo significado de práticas tidas como “malévolas”. Mas ao distorcermos o significado da palavra para sábio, logicamente todos acreditam serem sábios.

Há algum tempo fizemos uma indagação a muitos pagãos, sobre se alterássemos o significado da palavra bruxaria para “caipira”, quantas ainda assim tomariam o título, e o resultado foi menos de 10%.

A conclusão, para o termo Bruxaria, é mais uma das muitas crenças marginalizadas, e não simplesmente a representação de todas. Um dado interessante com relação à liberdade religiosa no Brasil. Tivemos apenas a legalização da Umbanda somente na data de 1945, antes disso havia não apenas uma perseguição religiosa, mas também uma perseguição policial; temos muitas outras como o Santo Daime que ainda é perseguido por diversas áreas da sociedade, devido o total desconhecimento do que elas são e representam.


Outra frase interessante e muito comum é “devemos ser e não ter” e acreditamos que isto funciona muito bem com títulos, acreditamos que antes de se “ter” uma religião, devemos “ser” religiosos, e não pensem que estamos nos referindo a burocracias e processos complexos, tal como o medo que as pessoas têm de federações, associações e outras referências, pois seria uma hipocrisia não pensar que as mesmas não estariam inseridas em alguma destas categorias, seja uma categoria profissional, tal como um CRA, CRE, que não participem de uma instituição de Previdência Privada, entre outras.
  
Acreditamos que existe uma linha que separa os revolucionários dos rebeldes sem entendimento.

Nós do Conselho de Bruxaria Tradicional, entendemos que devemos através do sistema e não contra o sistema, conquistar direitos e assumir deveres, tal como qualquer religião oficializada, pois somente assim exerceremos com embasamento o nosso direito de culto, que já é assegurado pela constituição federal, artigo 5°, porém ainda marginalizado e ridicularizado, devido ao total desconhecimento, tanto dos que não participam da linha religiosa como dos que distorcem os parâmetros religiosos.

Devemos entender também a diferença de conhecimento pessoal e área religiosa, como muitos brasileiros, conhecemos muitas religiões, fizemos em algum momento de nossa vida uma busca espiritual, porém esse agregado é tido como crença pessoal e nunca pode ser misturado de forma a representar um caminho religioso coletivo, portanto o fato de se pular 7 ondas, de comer uva, lentilha, tal como muitos "cristão" o fazem, essas crenças particulares nunca são tidas como atos religiosos oficiais católicos.

Portanto, religião é diferente de crença pessoal, e o fato de querer ofertar conhecimento é nato em muitos líderes religiosos, sejam eles cristão, pagãos, budistas, entre outras designações, isto não lhe torna especial ou melhor, é apenas um fato comum e por vezes mal interpretado tanto para quem ensina, quanto para quem aprende.

Terminamos com um pedido, gostaríamos de modo fraterno, que todas as pessoas que acessam outros blogs, sejam contrárias ao trabalho que desenvolvemos ou não, não o façam com o objetivo de “caçoar” ou com objetivos agressivos, acreditamos que todos têm o direito de colocar as suas idéias.

Acreditamos no idealismo e na coletividade, portanto vamos nos objetivar no conhecimento, como bem colocamos, o nosso foco não objetiva área comercial, nossos projetos são de cunho social.

Agradecemos, mais uma vez ao carinho de todos os colaboradores.

Cordialmente,

Práticas em Bruxaria Tradicional

Bruxaria sim! Por que não?

O Início

Sou alguém que buscou  por muito tempo o caminho da bruxaria...... 

Li bastante, em livros, internet...

Conheci pessoas, listas, instituições, mas na verdade nada me acrescentou muito.

Nas pessoas vi egos, ostentações de títulos. Muitos títulos, muitas palavras para pouco ensinamento.

Na maior parte das vezes eram uma junção de tudo que já tinham lido (muitas vezes só pela internet) com pouca base e menos conteúdo ainda.

As listas e grupos eram feitas por pessoas mais ou menos iguais as que tinha conhecido.

Se perdiam em problemas pessoais, em conflitos de egos e em termos de aprendizado pouco ou nada acrescentavam, já que preferiam “lavar a roupa suja” com seus desafetos, do que partilhar real conhecimento.

Muitas vezes fiquei pensando se o conhecimento existia, ou era só baseado em auto intitulação, em workshops de um dia, com muito gasto de dinheiro e pouca ou nenhuma profundidade.

Cada um com seu ego inflado, se dizendo perseguido ou injustiçado, mas sempre se achando o escolhido.

Quantos, logo após montar seu próprio grupo, com mais saladas místicas, passavam a falar mal da pessoa que os iniciou no caminho.

Nunca compreendi a mistureba, os esquisoterismo desenfreado

A meu ver, essas práticas, além de só confundirem as pessoas que realmente buscam conhecimento, desacreditam quem as usa. A cada dia nasce uma “nova tradição”, com princípios mais esquisitos que os anteriores e sempre acrescentando um elemento tirado de outra religião, como se adornar-se das coisas dos outros os tornassem mais sábios, ou garantisse mais títulos.  

Há alguns anos conheci um grupo. De inicio achei que era como os outros, mas a proposta deles veio de encontro ao que eu buscava.

Baseadas em conhecimento, tradição e êxtase, respeitando a individualidade, as diferenças,o respeito a terra onde vivemos,  mas sem se perder dos princípios da Bruxaria Tradicional.

Nesse caminho eu me reencontrei, não por muletas ou fórmulas prontas, mas por uma batalha diária de me conhecer, de buscar as respostas em mim, sem esperar que ninguém as trouxesse de forma mastigada e moldada a sua vontade.

E vi por mim!  Retorno a minha essência, me amo a cada dia mais e sou cada dia mais forte. Sei o quanto ainda posso caminhar, pelos mundos, por tudo que fora do caminho parece apenas um sonho.

Acredito que cada um possa fazer o que bem entender, mas não por desinformação.

O objetivo aqui não é afirmar que estou certa, dizer que meu caminho é o único.

Se eu tivesse tal pretensão, seria como aqueles a quem tanto critiquei e não compreendi.

Não alimentamos preconceitos a qualquer religião ou crença, simplesmente não a seguimos.

Não agregamos elementos de outras crenças apenas agregar mais pessoas, mais simpatizantes. Somos o que somos, sem saladas místicas.

Você pode se intitular budista, judeu, ou qualquer coisa que seja, desde que siga o que se propôs, que deseje trilhar esse caminho por vontade e afinidade, não apenas para agradar, ser aceito ou ir contra a sociedade.

Então trilhe esse caminho aberto ao conhecimento, sem preguiça, sem engolir qualquer coisa que querem te vender pela internet.

Seja o que quiser, mas seja você e seja feliz!

Não se acomode, questione, pense!

Elimine do dicionário da sua vida a palavra mediocridade e, faça o que fizer, faça direito, com capricho, paixão, dedicação.

Se ainda assim se interessar pela Bruxaria Tradicional, temos links aqui e textos de colaboradores que podem ajudar a tirar dúvidas, a entender se este é realmente o seu caminho.

Fonte - Blog do Bruxo por Ginna

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Bruxaria Tradicional. Esclarecendo as distorções!

O que é ser um Bruxo Tradicional? Esclarecendo as distorções.
Dentro dos textos que analisamos, as pessoas confundem Bruxaria com Ocultismo, com Intuição, com Feitiçaria e com o uso da internet isso se torna cada vez mais explícito, e o nosso objetivo é direcionarmos para o entendimento de cada conceito.

Como dissemos, estamos aqui para agregar, porém é óbvio que temos uma linha de pensamento, quando dizemos “aceitação” é dentro dos moldes filosóficos que praticamos e todos que procuram são bem vindos.

Se hoje o termo Bruxaria não tem relação direta com os cultos pré-cristãos, dizemos que isso é uma clara distorção, se não cultuarmos a preservação de valores, então do que vale o nome tradicional? Temos que respeitar os devidos conceitos e darmos a eles os nomes destinados.

Temos um modo muito fácil de simplificar as questões e, se por acaso alguém acha que Bruxaria Tradicional tem que ser “modificada”, que ela vem se “modificando”, que ela hoje tende a ser mais “moderna”...É muito simples, troquem o termo Bruxaria Tradicional para Bruxaria Moderna e se tornem membros da Wicca.

Se por acaso acreditam que Bruxaria Tradicional é “atemporal”, que é uma junção de “sistemas mágicos”, se não há linha descendente de conhecimento, se não existe uma raiz geográfica, que prezam por algo “monista”, se acreditam que deuses são dispositivos psicológicos, que ancestrais são apenas energias a serem trabalhadas. Caros leitores, francamente, isto não é Bruxaria Tradicional, por mais que se queira dizer por status que seja.

Nossa intenção é agregar e não temos pretensão alguma em destruir qualquer coisa, até por que para se destruir algo “isto ou aquilo” tem que pelo menos existir e hoje tudo o que vemos dentro do que é mostrado em Bruxaria Tradicional, tanto de instituições como pessoas são apenas desejos platônicos da década de 50 para se inspirar nos cultos pré-cristãos e seus festejos pagãos, que obviamente dentro do que conhecemos não passou de um simples desejo superficial, algo para chamar a atenção da mídia.

O termo bruxaria realmente alcançou bom acesso à mídia na década de 50, tal como hoje, tem forte apelo na mídia, por ter equiparado ao termo ocultista/ místico, bem diferente do período medieval que era uma visão de anti-cristianismo dada pela campanha católica e não protestante. Como sabem o protestantismo nasceu em 1.500 d.C., mas bem antes disso, a palavra bruxaria já existia, até mesmo antes dos romanos invadirem a Península Ibérica, portanto seria mais uma falta de informação tentar dizer que bruxaria teve seu início na década de 50.

Com relação às Iniciações para ser um padre é necessário sua ordenação, para ser católico também se passará por iniciações, tal como um batismo, mas são modos diferentes de ritos de passagem.

Como funciona na Bruxaria Tradicional? Como temos dito, primeiro é necessário entender o conceito Bruxaria Tradicional, embora já explicado em diversos textos, sempre observamos a mesma confusão, então reflitam sobre esses conceitos:

- Crenças Tradicionais;
- Qual a origem do termo Bruxaria;
- Famílias Pagãs = Bruxaria Familiar/ hereditários;
- O que separa Bruxaria Familiar da Bruxaria Tradicional.

Outro contexto que devemos esclarecer é que se você não acredita em iniciação, você provavelmente não passou por esse processo e, se passou por uma não passou por todas. A transmissão dentro da Bruxaria Tradicional é ancestral, se estamos trabalhando com linha de tempo, conhecimento passado de geração a geração, é obvio que ao receber este conhecimento não existe necessidade de copiar sistemas de outras crenças, se o faz, faz por aprendizado próprio e não em nome da Bruxaria Tradicional, ou o que se aprendeu não teria valor, estaria corrompido ou fragmentado. Conheço gente que disse que nasceu Bruxo Tradicional e hoje é Wiccano, um erro conceitual, na verdade o sujeito veio de uma “família pagã”, na qual os conhecimentos transmitidos não lhe eram agradáveis ou não passavam de pequenos fragmentos sem sentido.

Como também conheço pessoas que eram wiccanas e resolveram se tornar Bruxos Tradicionais para se distanciarem de conceitos e regras comuns a qualquer caminho, seja chamado de crença, seja chamado de religião, na verdade, querendo ou não a Bruxaria Tradicional tem suas definições também, devemos entender que Bruxaria Tradicional é um agregado de costumes, folclore, filosofia, magia, enfim... Ela não é simplesmente feitiçaria, alias a feitiçaria não ocupa tão grande espaço dentro da crença como muitos acreditam, muito embora seja o mais divulgado.

Um bruxo precisa de aprovação? Depende, pedimos aprovação aos nossos mestres, pedimos aprovação em uma reunião de um grupo, pedimos aprovação para um evento publico. O fato é que as pessoas confundem aprovação como um ataque a sua soberania pessoal, uma aprovação pode ser um conselho, pode ser um ato de dividir uma tarefa, entre outros atos.

Vamos falar como funciona a Bruxaria Tradicional; não falaremos em nome de todos os grupos, porém usaremos um conceito genérico.

Um bruxo pode trabalhar sozinho? Uma boa questão! Primeiro, um bruxo pode após suas iniciações e pactos, pode viver e seguir seu caminho sem precisar criar um grupo, mas ele deve respeito e não corta vínculos com sua origem, seja esta apenas um tutor, seja esta um grupo fraterno.

O que é o sacerdócio dentro da BT? É um passo onde se busca ferramentas para lidar com iniciantes, onde se adquire conhecimentos reconhecidos para promover iniciações.

Um bruxo precisa ser um sacerdote? Não, ele não precisa se envolver com o sacerdócio, tal como um exemplo: ele pode ser católico ele não precisa ser um padre, assim fica mais fácil a compreensão.

Qualquer linha ligada ao paganismo pode celebrar os encantos da natureza, isto não é exclusividade da Bruxaria Tradicional. Se existe uma diferença sacerdotal para com um comum praticante esta diferença está somente no ponto da iniciação, do comprometimento ao ensino, de oficialização de trabalhos em grupo. Portanto não existe uma obrigatoriedade, mas repetindo, estamos falando de Bruxaria Tradicional, que é algo hierárquico, estruturado, iniciático, não estamos falando de Bruxaria Familiar, que é outra estrutura, com outros trâmites, caso o leitor tenha interesse nas definições vejam os textos anteriores de nosso blog, ou venha até um de nossos encontros.

O ensinamento está aberto para qualquer um que queira aprender, não existe necessidade de ser um sensitivo ou achar isso no astral viajando por portais, calma leitor! Não irá participar de rituais públicos, não irá ingressar automaticamente num grupo. O que propomos é apenas o ensino, o modo do pensar, do entender o mundo e para isso basta ter ouvidos. Não pensem que um Bruxo Tradicional é um “avatar” (isso infelizmente é mais uma distorção), este é apenas um caminho que te leva a ter vivência e conhecimento.

E por isso que olhamos com pesar e até questionamos o caráter de algumas pessoas que condenam o ato do ensinamento, como também o distorcem para arrebanhamento. É muito estranho para nós pensar que alguém vá contra o ato nobre de compartilhar, e que também é contra e julga àqueles que desejam se unir para realização de projetos e ideais. Entretanto uma coisa é certa, todos os que queiram serão bem recebidos em nossos projetos!

Queremos enfatizar que Bruxaria Tradicional continua sendo pagã e sempre será, que honraremos sempre a Natureza, que honraremos nossas origens e aos nossos ancestrais. Não estamos focando no céu e no inferno tal como alguns nomeiam como celestial e subterrâneo. Bruxaria Tradicional é uma visão alternativa e não um agregado de filosofias desconectadas. É isto que faz a diferença! Não é medir um bruxo se ele faz feitiços que resolvem, isso o torna apenas um bom feiticeiro, ser um bruxo é mais do que feitiçaria, um bruxo realmente odeia o barulho das cidades, ele se encontra na tranqüilidade de uma floresta, ele não transmuta a sua filosofia ele transmuta os seus atos perante o meio que vive, eis a diferença de pensamento.

Caro leitor, não estamos aqui para criticar o catolicismo ou qualquer outra religião, acreditamos que o protestantismo já faz suas críticas diretas, a história é a mesma basta estudá-la, temos dados expressivos de analfabetismo na interpretação de texto, o que concordamos, falta bom senso além de conceito, mas com boa educação e com vontade todos podem se compreender.

Vejam, para alguns seria impossível admitir que pessoas ligadas à bruxaria pudessem estar ligadas a política, se fosse assim não teríamos bancadas de religiosos no congresso! Vejam, um bruxo tradicional esta ligado a movimentos culturais também, ou seria apenas um tapado feiticeiro? Seria uma tremenda falta de bom senso acreditar que bruxos são apenas personagens míticos, que eles não se envolvem com as diversas camadas da sociedade, este pensamento é cabível somente para gente de mente fantasiosa.

Como alguém que não é tradicionalista pode afirmar algumas informações sem base? É impossível não termos separações conceituais e históricas dado aos eventos do tempo ao afirmar sobre Bruxaria Tradicional tardia. São obvios, pois não existem relatos desse ponto que conduzam a crença pré-cristã com propriedade, é obvio os elementos filosóficos clássicos, o foco apenas na magia e tantas outras considerações. Temos um cenário de Wicca versus Bruxaria Tradicional, uma disputa de Gerald Gardner com Robert Cochran ou das influências de Andrew D. Chumbley nitidamente ligadas a Austin O. Spare que em nada são similares com a base dos cultos pré-cristãos. A isto chamamos de “ruptura”, por tanto, uma nova visão que infelizmente usou do mesmo nome “Bruxaria Tradicional”.

Não estamos declarando que não houveram mudanças, mas essas mudanças não implicam na junção de outros sistemas mágicos incorporando na crença, no modo de agir, de pensar. Estamos falando de um caminho religioso e não de um agregado de misturas de diferentes épocas e sem sentido. Nos não observamos em outras crenças tradicionais dizerem que, por exemplo, o Budismo é diferente do que era antes, não vemos budistas traçando pentagramas no chão, não vejo budistas dizendo que Buda é um mecanismo psicológico de máscara para sociedade e tantas coisas absurdas e que estamos acostumados a ver no meio neo-pagão “erudito”.

Estamos aqui para desmistificar a crença na Bruxaria Tradicional, apenas isso, e sentimos realmente se alguns de nossos leitores assíduos se incomodam, não queremos que o nosso caminho seja distorcido para contemplar as particularidades de alguns que não se sentem a vontade em outras religiões neo-pagãs.

Utilizar desses argumentos: “se basear no Malleus Maleficarum (1487) com a manipulação da Igreja para dizer que bruxos portavam grimórios”, “Que um bruxo utiliza elementos de outras religiões porque ele é um sábio” “Que a organização e multi-cooperação devam ser vistas com suspeita” São pontos muito fora de contexto.

Queremos agradecer a todos que analisam nossos textos, mesmo no tom de crítica sem base, ou baseados em dados confusos e distorcidos. Sempre é bom ver o quanto podemos ajudar, é um termômetro para observarmos como anda o conhecimento da magia (e infelizmente está muito ruim), mas acreditamos como “religiosos esperançosos” que pelo menos os leitores se questionem sobre o que acreditam, e convidamos a todos para que venham nos conhecer pessoalmente. Acreditamos no debate de idéias, mas não da agressão direta e pessoal.

FONTE: Conselho de Bruxaria Tradicional
Autor: Ricardo DRaco